Documento
com as constatações da equipe de inspeção – que reuniu instituições do próprio
governo, pesquisadores e organizações não governamentais – foi entregue
O
Ministério Público Federal apresentou ao governo federal, em reunião com a
Secretaria-Geral da Presidência da República e outros órgãos governamentais, o
relatório parcial da inspeção feita no início do mês nas áreas atingidas por
Belo Monte, em Altamira, oeste do Pará. O documento enumera 55 constatações
sobre o descumprimento das obrigações da usina e violações dos direitos dos
atingidos e foi fruto de acordo entre todas as instituições que participaram da
inspeção.
A
Norte Energia já foi informada sobre as conclusões. O relatório é preliminar e
recomenda intervenção urgente no processo para paralisar as demolições e
violações de direitos das populações removidas. Uma das primeiras medidas que
precisa ser tomada é a paralisação da chamada balsa da demolição, que há meses
percorre o Xingu fazendo a remoção dos ribeirinhos e pescadores que estão nas
áreas a serem alagadas por Belo Monte.
Um
relatório definitivo está sendo finalizado pela equipe de antropólogos do MPF
que participou dos trabalhos. Também são aguardados documentos com as
conclusões dos pesquisadores participantes, de várias universidades.
“A
condição do atingido não deve ser observada do ponto de vista unicamente
territorial e patrimonialista, e sim reconhecer uma situação onde prevalece a
identificação e o reconhecimento de direitos e de seus detentores, evoluindo
significativamente na amplitude com que procura assegurar a recomposição, e
mesmo melhoria, das condições de vida das populações afetadas”.
A
frase não é do relatório da inspeção nem de alguma ação judicial do MPF. É a
premissa do Projeto Básico Ambiental (PBA) de Belo Monte, confeccionado pela
própria Norte Energia e aprovado pelo Ibama, que deveria ser rigorosamente
cumprido pelo empreendimento.
Não
foi o que a inspeção observou em Altamira nas áreas em que há remoção de
população. No total, são 78.793 hectares interferidos pela usina e quase duas
mil famílias atingidas só na área rural. São agricultores, pescadores,
extrativistas e ribeirinhos que, se o PBA fosse obedecido, deveriam ter
recebido o necessário para recompor as condições em que sempre viveram. Em vez
disso, de acordo com os dados oficiais da Norte Energia, 75% deles receberam
tão somente indenização em dinheiro, demonstrando que a opção que deveria ser a
principal, a de reassentamento, praticamente inexiste.
As
instituições que participaram da inspeção foram o Ibama (Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente), Funai (Fundação Nacional do Índio), CNDH (Conselho Nacional
de Direitos Humanos), ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade), DPU (Defensoria Pública da União) e DPE (Defensoria Pública do
Estado), além de vários pesquisadores, entre eles Mauro Almeida, da Unicamp,
Manoela Carneiro da Cunha, da USP e Sônia Magalhães, da UFPA. O Procurador
Federal dos Direitos do Cidadão, Aurélio Rios, assim como Paulo Maldos, da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
O
MPF aguarda, após a apresentação das constatações ao governo, uma resposta
formal sobre a paralisação das remoções e sobre as providências que serão
adotadas para resolver os problemas apontados.
Ministério
Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
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