domingo, 17 de maio de 2015

Pará pode perder liderança na produção

Pará pode perder liderança na produção   (Foto: Thiago Gomes/Arquivo)O Pará pode perder sua posição de maior produtor de mandioca do Brasil. É o que afirma – em tom de desafio – o presidente da Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná (Aproman), Francisco Abrunhoza.
O Paraná ocupa atualmente o segundo lugar no ranking de plantio, com quatro milhões de toneladas da raiz por ano. O Pará não tem dados atualizados.

De acordo com a secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca, o último registro de previsão de produção paraense é de cinco milhões de toneladas/ano.
E é exatamente por conta desta “desorganização” do setor da mandiocultura que o Pará vai perder um de seus únicos recordes em rankings nacionais.
O Pará, por exemplo, não tem nenhum integrante ativo na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Mandioca e Derivados, conforme mostra a ata da última reunião publicada no site do Ministério da Agricultura, cujo presidente é o paranaense, Ivo Pierin Júnior. Nas reuniões são discutidos os principais problemas do setor e compartilhadas soluções encontradas entre os estados produtores.
O Pará não tem uma associação estadual de produtores de mandioca, à exemplo do que acontece com o Paraná. O Pará também não tem expertise na produção de fécula da mandioca. Seu concorrente, o Paraná, é o maior produtor de fécula da mandioca do país. A previsão é que a indústria paranaense processe 400 mil toneladas em 2015. Para se ter uma ideia, a estimativa brasileira de produção de fécula é de 600 mil toneladas para o ano.
Nos últimos dois anos, o preço da tonelada da mandioca vem despencando no mercado nacional. Enquanto em 2013 a tonelada da raiz era comercializada a R$ 550, em 2015 o valor varia entre R$ 180 e R$ 200. A Câmara Setorial da Mandioca denuncia que esse preço não cobre nem mesmo os custos da produção e desestimula os produtores. Por isso, o setor enfrenta uma crise que há muito tempo não se via.
Para enfrentar a crise que chegou em um ano de supersafra e baixa de preço, os produtores do Paraná estiveram em Brasília, mobilizados para dar um novo incremento ao plantio da mandioca no Brasil.
Uma reunião realizada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) na última quarta, 13, acendeu esperanças no setor: o governo federal analisa a possibilidade de comprar 80 mil toneladas de farinha de mandioca nos próximos dois meses.
Quem participou desta reunião representando o Pará foi a deputada federal Simone Morgado (PMDB) que revelou preocupação ao saber que não haveria representante paraense do setor no encontro.
“O setor produtivo paraense está desorganizado. É preciso dar incentivo aos produtores para a criação de uma associação estadual que represente os milhares de mandiocultores que sozinhos conseguem fazer do Pará o campeão em produção”, sugeriu.
Simone Morgado acrescentou, no entanto, que esta não é a única ação necessária: “Precisamos modernizar nossa produção. Se da forma como trabalhamos hoje já alcançamos a maior produção nacional, imagine se tivermos mais apoio”, indagou.
A parlamentar ressaltou o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que faz um trabalho permanente junto aos produtores paraenses e parabenizou a ação do Ministério da Agricultura que, segundo ela, pode aliviar a mandiocultura, pressionada nos últimos meses por preços abaixo dos custos de produção.
Nos últimos 23 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, o Pará tem sido o maior produtor de mandioca do Brasil, com quase 300 mil hectares de área colhida em 2013. O sistema produtivo no Estado é predominantemente manual e artesanal.
A produtividade média atual é de 16 toneladas por hectare, volume considerado muito baixo quando comparado ao potencial de produção da cultura. Segundo técnicos da Embrapa, no Paraná, por exemplo, a produtividade dos cultivos com alta tecnologia chega a 24 toneladas por hectare, um terço a mais que a produção paraense.
O pesquisador Raimundo Brabo, da Embrapa, acredita que, por meio de tecnologias recomendadas pela pesquisa e já disponíveis, é possível obter maior produtividade no campo e aumento de 50 até 100% na farinha obtida, sem ser preciso aumentar a área plantada de mandioca.
Produto básico da alimentação na Amazônia, a mandioca é produzida em mais de 90% por produtores familiares que praticam agricultura de subsistência com baixo nível tecnológico.
Cultura altamente intensiva em mão de obra, estima-se que, no Pará, para cada três hectares de mandioca, um mínimo de duas pessoas sejam empregadas durante o ano.
“Isso indica que o cultivo da mandioca gera mais de 200 mil empregos no ano, talvez a maior fonte geradora de emprego no Estado”, comenta o pesquisador, apontando para o potencial socioeconômico da mandiocultura no Pará vinculada ao aproveitamento integral de seus subprodutos.

Fonte: Diário Online

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