quarta-feira, 6 de julho de 2011

Itamar, nacionalista de temperamento marcante

Muitos costumavam dizer que Itamar Franco era um político de sorte. De fato. Quando o vento soprava para um lado, quem estava lá? Ele, Itamar. Em 1974, ele se apresentou como candidato ao Senado por Minas, sem chances. Mas soprou o vento do protesto contra a ditadura e o PMDB elegeu muitos dos seus candidatos, entre eles, Itamar. Em 1992, aconteceu o primeiro impeachment de um presidente brasileiro – o primeiro eleito depois do golpe militar. Quem era o vice? Itamar Franco.
Mas não foi só por conta da sorte que Itamar Franco escreveu sua história na política brasileira. Seu temperamento forte – ele mesmo se declarou certa vez ” mercurial” -, o nacionalismo que foi sua marca ao longo de toda sua trajetória e, particularmente, seu jeito transparente de agir. Tanto que ficou criada a “solução Hargreaves” criada por Itamar Franco. Hargreaves, seu amigo e ministro-chefe da Casa Civil foi alvo de denuncias durante o mandato, e Itamar tomou a decisão: o afastou do cargo até tudo ficar esclarecido. Depois, ele voltou ao posto. De lá para cá, a cada governo, a solução Hargreaves é sugerida, mas nenhum outro presidente a adotou.
Assim foi Itamar Franco ao longo de sua vida publica: exigente, rigoroso. O fato mais relevante acontecido nos pouco mais de dois anos de mandato foi o lançamento do Real. Até hoje se discute quem foi o pai do plano que acabou com a inflação no Brasil: Itamar ou Fernando Henrique. Fernando Henrique colheu os louros e se elegeu presidente duas vezes no primeiro turno, mas a moeda entrou em vigor no dia 1º de julho de 1994, quando Itamar era o presidente. Por isso, ele não deixava passar a dúvida e lembrava que o Plano Real nasceu em seu governo.
Há que se lembrar, também, que as medidas que antecederam a implementação do Real aconteceram no mandato de Itamar Franco. Uma das primeiras foi o contingenciamento do orçamento de 1993, como forma de controlar o gasto público. Como Itamar Franco não aceitava argumentos econômicos simplesmente para adotar medidas e exigia sempre um olhar social para os problemas, os economistas do governo (todos recrutados por Fernando Henrique Cardoso, que era o ministro da Fazenda) decidiram batizar o contingenciamento de Fundo Social de Emergência. Só assim Itamar consentiu.
Itamar Franco foi um presidente da República que exprimia suas angústias. Assim, reclamou do preço dos remédios, até que os primeiros passos evoluíram para o premiado programa dos genéricos (um dos feitos de José Serra no Ministério da Saúde já no governo Fernando Henrique); foi ele também que reclamou do preço dos carros e propôs a volta do Fusquinha, programa sem sucesso. Itamar presidente vivia como cidadão. Ia ao cinema com a namorada, convidava jornalistas para visitar o Palácio da Alvorada e não parecia se impressionar com os rituais do cargo.
Nestes pouco mais de três meses que ocupou a cadeira de senador por Minas, Itamar também deixou sua marca. Foi intransigente nas cobranças ao governo e nas ações do presidente da Casa, senador Jose Sarney.  A ponto de Sarney desabafar com um amigo dizendo que Itamar estava sempre a postos para “pegar no seu pé” a qualquer deslize.  Só Itamar falava com Sarney no mesmo tom – de ex-presidente para ex-presidente.
Agora, vai-se Itamar. Aquele que fazia contraponto a Sarney, que não permitia ao PT se apresentar como o mais ético na política, nem tampouco deixar para o PSDB o troféu de ter derrotado a inflação. De fato, só ele podia.

G1 - Blog Crintina Lobo

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