quinta-feira, 23 de junho de 2011

Tempo de plantar, tempo de colher

Houve um tempo no Brasil, após 1964, em que as pessoas não podiam expressar livremente as suas idéias. Foi um período em que todos tinham de se enquadrar e quem agisse de forma diferente do regime era tido como subversivo da ordem e seria preso, torturado e às vezes morto. Foi o tempo em que as músicas tidas como subversivas, eram censuradas e proibidas a sua reprodução nas emissoras de rádio. E o mesmo acontecia com as peças de teatro, que eram proibidas de serem encenadas em público. Até livros de filosofia e sociologia, cujo texto fosse contrário ao regime, eram proibidos de serem vendidos nas livrarias. Era o tempo do slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o”, quando muitos acadêmicos, para não serem presos, foram para o exílio no exterior. E neste meio estava o jovem sociólogo Fern ando Henrique Cardoso, que, ao voltar ao Brasil, tornar-se-ia Senador de República em 1982 dedicando-se, no ano seguinte, a campanha das “diretas já”, movimento que buscou a restauração das eleições diretas para Presidente da República, cuja emenda constitucional foi rejeitada pela maioria fiel ao governo militar da época. Mas logo veio a campanha de Tancredo Neves à Presidência, que, mesmo a eleição sendo indireta, entusiasmou toda a nação. E lá estava o FHC.
Com a morte de Tancredo, Sarney assume a Presidência da República. Mário Covas era o líder da maioria. É formado o grupo dos autênticos do PMDB, com FHC. Promulgada a nova constituição em 1988, nasce o PSDB e lá está o FHC. Na primeira eleição direta, Collor se elege presidente. O PMDB e o PSDB ficam na oposição. É aprovado o impeachment de Collor, que logo em seguida é cassado. Assume Itamar Franco. FHC assume o Ministério das Relações Exteriores e torna-se Chanceler. Tempos depois assume o Ministério da Fazenda, implanta o Plano Real e libera os recursos para a topografia do Linhão da Transamazônica. E com o sucesso do Real, que dominara a inflação, elege-se no primeiro turno presidente.
Como presidente, deu continuidade ao Plano Real. Saneou o Sistema Bancário através do “PROER”, cujo programa deu ao Brasil todas as condições de enfrentar a crise de 2009, sendo, inclusive, elogiado pelo presidente Lula. Capitalizou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Renegociou a dívida externa brasileira. Assumiu, pela União, a dívida externa dos estados federados, fato que, aliás, lhe deu muitos dissabores. Criou o FUNDEF, a bolsa-escola, o vale-gás e o PETI, dentro de uma estratégia para manter “toda criança na escola”. Editou a Lei de Responsabilidade Fiscal. Privatizou o sistema de telefonia, propiciando a expansão e a modernização desses serviços, gerando emprego nas operadoras e nas fábricas de telefones e de chips. Privatizou a Vale, tornando-a mais compe titiva, maior e sem deixar de ser brasileira e que, hoje, recolhe tributos. Modernizou o Estado brasileiro, com a criação das agências reguladoras... Enfim, revolucionou a gestão em nosso País.
No que tange à energia, determinou a construção da 2ª etapa de Tucuruí e a conclusão das hidrelétricas de Paredão, no Amapá; Samuel, em Rondônia; Manso, em Mato Grosso; Lajeado, no Tocantins e Xingó em Alagoas. Determinou a implantação de dois circuitos, em 500 Kvolts, da chamada Linha Norte-Sul, que leva a energia de Tucuruí até próximo de Brasília; o projeto Tramoeste, que leva a energia de Tucuruí a Altamira, Itaituba e Santarém, atendendo todos os municípios da transamazônica; o linhão que leva a energia da hidrelétrica de Guri até Boa Vista, em Roraima; além de implantar a ALUNORTE, em Barcarena, fechando o ciclo do alumínio, desde a exploração da bauxita e a sua transformação em alumina, até a fabricação do alumínio em lingotes. E note-se: isso ocorreu a époc a em que a Vale, ainda, era estatal.
Por fim, e até para não cansar o eventual leitor, lembremos que foi na era FHC que foi implantado o voto eletrônico e que tanto orgulho dá aos brasileiros. É este homem, Fernando Henrique Cardoso, que completou 80 anos no último dia 18 de junho e que teve sua obra reconhecida até mesmo pela presidente Dilma, o que atesta que o Brasil de fato mudou, no respeito e no trato político. Parabéns ao FHC  e ao Brasil pela colheita.


Publicado em O LIBERAL de 22/06/2011, 1º caderno, pág. 02


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