Quando tinha 48% de rejeição popular, a governadora Ana Júlia Carepa se aliou ao prefeito Duciomar Costa, cujo índice negativo era de 73%. A única razão para essa composição seria o tempo do PTB no horário eleitoral gratuito. Considerado o pior prefeito que Belém já teve, Duciomar não poderia assegurar a fidelidade dos seus correligionários, que não comanda (e que, mesmo com a coligação formal, passaram a apoiar Simão Jatene no 2º turno). Se é que aderiu com sinceridade à candidatura da governadora.
Obtido o acordo para que o Estado repasse à prefeitura da capital a parte do ICMS retida na administração do PSDB, para prejudicar o então prefeito do PT, Edmilson Rodrigues, o alcaide se desinteressou por completo da campanha. Mesmo porque não poderia exercer qualquer efeito positivo sobre ela, só o negativo. Quanto ao tempo de televisão que proporcionou, pouco valeu: falar ao telespectador não está entre as qualidades da governadora. Muito pelo contrário. Ela só dá resultados quando brada sobre um palanque a auditórios ensurdecidos.
Ana Júlia cometeu mais um grave erro na sua estratégia ao receber – com muita alegria aparente e nenhum constrangimento evidente – a adesão do ex-governador Almir Gabriel. Desta vez, a única explicação para a insólita e chocante aliança é o sentimento que domina os dois personagens da política paraense. Em Ana Júlia, o desespero pelo risco cada vez maior de não alcançar a reeleição na disputa do 2º turno. Em Almir, a obsessão – já em alto grau de patologia – de atingir seu ex-correligionário, afilhado e amigo Simão Jatene.
Se ainda pudesse agir sob o comando da razão, a candidata do PT verificaria que a incorporação – também surpreendente – do ex-governador do PSDB à candidatura de Domingos Juvenil, do PMDB, não rendeu votos que tivessem expressão. Tanto que a presença entusiasmada de Almir Gabriel foi dispensada no meio da campanha, quando suas aparições foram suspensas e ele se restringiu a alardear a candidatura a deputado estadual de um empreiteiro, muito bem servido durante os oito anos do médico tucano.
Mais do que não agregar votos, Almir pode até ter contribuído para desfavorecer a anêmica candidatura de Juvenil. Não acontecerá o mesmo, ou talvez pior, com sua adesão ao PT, de maior impacto do que aparecer aos abraços e risos com o arquiinimigo Jader Barbalho?
Já o ex-governador, se suas faculdades analíticas não estivessem comprometidas, poderia se dar conta de que seu atual inimigo figadal foi ressuscitado pela incompetência da nova aliada. Todos – inclusive o próprio – previam apenas boas pescarias, sessões musicais e serões literários no horizonte de Simão Jatene quando ele não pôde disputar a reeleição, em 2006, atropelado por Almir Gabriel. Confirmava-se a previsão de que Jatene não entrava em bola dividida ou era preguiçoso, como o classifica agora justamente aquele que o transformou de “poste eleitoral” em governador, para tanto colocando a máquina pública nas ruas.
O desgaste do governo do PT fez rebrotar o que restava da semente do nome de Jatene. Quanto mais crescia a rejeição a Ana Júlia, mais se fortalecia a opção pelo ex-governador, que deixou o cargo com índice de popularidade positivo e foi poupado do desgaste da derrota tucana pela tresloucada aventura narcisista de Almir. Foi o que provocou o seu crescimento acelerado, mesmo contra a máquina estadual, que ultrapassou o nível de irresponsabilidade do PSDB (em 2000, para permitir a Almir derrotar Jader Barbalho, e em 2004, para dar tutano eleitoral ao refratário Simão) e assim tornou possível o 2º turno, quando a vitória do adversário parecia inevitável.
Assim, ao invés de contribuir para a punição do seu ex-pupilo, a quem trata como o mais sórdido dos traidores, obcecado pelos ímpetos de vingança e rancor, o médico Almir Gabriel, já sem legenda e sem bandeira, pode ter atirado a última pá de terra sobre a própria biografia, arrastando consigo a desnorteada arquiteta Ana Júlia Carepa. Uma união tardia e equivocada para determinar o fim de ambos.
Estado do Tapajós
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