O diretor de proteção ambiental do Ibama condenou o ataque a
um caminhão cegonha que transportava novas viaturas que seriam utilizadas pelas
equipes de fiscalização no Pará. Segundo Luciano Evaristo, a ação foi
organizada por grupos que temem que a presença de fiscais ambientais na região
impeça a prática de crimes relacionados ao desmatamento ilegal.
Oito caminhonetes que seriam entregues à sede do instituto
em Santarém, no oeste do Pará, foram incendiadas na BR-163 nesta quinta-feira
(6). O crime ocorreu em um posto de gasolina na localidade de Cachoeira da
Serra, que fica perto da Floresta Nacional do Jamanxim, no município de
Altamira – a 1.824 quilômetros de Belém.
“É uma retaliação a ações de fiscalizações. Você tem ali na
área onde foram queimados os veículos uma concentração de atividade madeireira
ilegal, que usa madeira roubada da terra Kaiapó. Quando eles perceberam a
chegada de novas viaturas, acreditaram que sofreriam um ataque em massa do
poderio repressivo do estado, e atuaram para diminuir isso”, disse Luciano
Evaristo.
De acordo com o diretor, porém, a ação criminosa não terá
efeito negativo nas fiscalizações. “Mas (o ataque) em nada diminui as ações do
Ibama. Estávamos apenas fazendo a troca das viaturas, como fazemos a cada dois
anos por carros zero km. Foi um ato que não causou prejuízo ao Ibama, pois os
carros pertencem a uma locadora. Eles (os criminosos) só vão colher mais
repressão, pois vamos combater com mais força o roubo de madeira e grilagem.
Vão ter mais repressão do que já tinham, pois vai chegar a Polícia Federal e a
PRF na área”, afirma.
Ainda segundo Evaristo, a inteligência do Ibama já havia identificado
a possibilidade de um ataque aos veículos que transportavam as viaturas. “A
inteligência do Ibama identificou que iriam tentar incendiar as carretas.
Acionamos os motoristas e mandamos retrocederem. Eles não cumpriram a
determinação e foram alcançados pela mão do crime organizado. Uma (cegonha)
conseguiu fugir, outra foi queimada no local”, detalha.
O incêndio está sendo investigado pela Polícia Federal. O
Ibama informou ainda que encaminhou à PF áudios e mensagens em que criminosos
incitam a destruição de veículos e helicópteros do Instituto.
Protestos e polêmica
De acordo com Evaristo, é provável que os criminosos
envolvidos neste ataque também tenham envolvimento com os protestos contra o
veto presidencial que impediu a transformação de parte da Floresta Nacional do
Jamanxim em uma APA, unidade de conservação mais branda que permite a
exploração humana.
“Naquela região tudo é interligado. Lá em Jamanxim tem
interesse de grileiros, posseiros e de quem rouba madeira. Eu não posso afirmar
quem seria, mas provavelmente há ligação deste grupo que fez bloqueio na BR e
as pessoas que queimaram os veículos”, disse Luciano Evaristo.
A Floresta Nacional do Jamanxim é uma área disputada e,
recentemente, esteve no centro de uma polêmica sobre a ocupação da Amazônia
devido à uma medida provisória (MP) que poderia mudar suas fronteiras.
O projeto reduziria a área da Flona Jamanxim e transformaria
37% da floresta em uma APA, menos protegida e onde poderia haver exploração de
terras. A MP foi muito criticada por ambientalistas e, no dia 19 de junho, foi
vetada pelo presidente Michel Temer.
O veto resultou em protestos de produtores rurais da região,
que já duram três dias e causam bloqueios na rodovia. Nesta quinta, toras de
madeira foram colocadas no meio da BR-163, além de um carro-som e de pneus
usados para bloquear a passagem de veículos.
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