O
que assistimos hoje? Como há dois mil anos nas arenas do Coliseu romano, expõem-se
acusados, acunhados de os condenados do
mensalão, à execração da opinião pública num monumental anfiteatro
comandado por magistrados transvestidos de Catão incorruptível, e, remontando
aos idos tempos, em verdadeiros sobas africanos.
Molière
não faria melhor encenação. Embalada nos frenéticos aplausos da massa humana, idólatra
desses novos deuses, a mídia televisiva e a internet, a alta corte do país dita
uma nova ordem de moralismo, mesmo violentando os mais elementares princípios e
normas do Estado Democrático de Direito. Todos procuram tripudiar nos vencidos.
Vem-me um horror sarcástico desse cenário teatral por trás do qual
grassa nas antecâmaras dos poderes corrupção epidêmica, escancarada nas obras
faraônicas, sobretudo no Judiciário.
Aplaudam-se
os magistrados na ação punitiva aos condenados de alto coturno, e que ela se
estenda implacavelmente por todo o país a prefeituras e tribunais superiores.
Que
não fique, Sr. Ministro, na consciência do povo brasileiro a frustação melancólica de que mais um espetáculo circense
foi montado. O juiz Lalau nos deixou de sobreaviso.
Desde então, quem foi condenado?
A
mais condenável ação de um dirigente do poder é arrastar às fronteiras do
engodo a consciência de um povo.
Cansa-se
a nação das demagogias e hipocrisias. Existe um abismo entre o povo brasileiro
e a nação. Ele precisa de um estadista que desafie os grandes problemas e
aponte as soluções, e não de populistas de ocasião.
Façamos
deste Brasil uma nação conduzida por um povo forte e livre, e não um
empanturrado país manipulado por elites egoístas e venais.
Os
indignados repelem a passividade satisfeita que uma mídia comprometida quer
impor ao povo brasileiro.
Entre
o ruído que a condenação dos acusados do mensalão provoca e a esperança do
povo, uma verdade eclode: que este julgamento não seja apenas uma peça teatral,
porta larga por onde os corruptos e os irresponsáveis gestores públicos
trafeguem.
Condenar
não basta, Sr. Ministro, urge convocar a consciência da nação para uma nova
ordem de respeito aos recursos públicos.
A sensação de que tudo isto é mais uma encenação midiática levará à desolação o
povo brasileiro, tão malbaratado por poderosas forças.
Saudações
democráticas.
Agassiz Almeida
Agassiz Almeida, escritor, ativista dos direitos humanos, ex-deputado
federal constituinte, autor das obras, “A república das elites”, A ditadura dos
generais”, e recentemente lançou “O fenômeno humano”. É considerado pela crítica
como um dos grandes ensaístas do país.
Enviada por email ao Blog GV
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