sábado, 30 de março de 2013

Senadores questionam tendência de hidrelétricas construídas sem reservatório


A tendência de se construírem usinas hidrelétricas a fio d’água ao invés de usinas com reservatórios e o investimento em fontes renováveis de energia foram os principais assuntos levantados pelos senadores no debate desta quarta-feira (27) na Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI) do Senado. A discussão fez parte da audiência pública sobre Energia e Desenvolvimento do Brasil que trouxe pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP).

Além dos senadores, os cidadãos também puderam participar por meio do Alô Senado. Eles fizeram perguntas sobre vários temas que foram lidas pelo presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), e respondidas pelos professores.

Hidrelétricas sem reservatório

O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) questionou o motivo que levou à decisão de parar de construir hidrelétricas com reservatórios no Brasil e a substituição pelas usinas a fio d’água. As hidrelétricas a fio d’água são aquelas que não dispõem de reservatório de água ou o têm em dimensões menores. É o caso da decisão adotada para a construção da Usina de Belo Monte, no Pará. Para Flexa Ribeiro, essa decisão é incorreta e o Brasil estaria jogando energia fora.

- Foi mostrado aqui pelos professores que o grande problema da energia é guardá-la. A única forma de gerar energia com reserva é por meio de reservatórios, em que se pode equilibrar períodos de seca e períodos de enchentes. Sem isso, vamos ter de compensar com energias que não tem como reservar, que é o caso da eólica, você tem que gerar e consumir, senão vai se perder – afirmou o senador.

De acordo com o professor da Unicamp Sérgio Bajay, a partir do momento em que o Brasil deixa de construir reservatórios, o problema da complementação técnica passa a ser uma necessidade. Para Bajay, ou o país volta a construir usinas hidrelétricas com reservatório, ou deve usar as termelétricas como backup. O professor defende que o governo estabeleça uma política de priorização de locais onde a construção de reservatórios tenha menor impacto ambiental e social.

- Voltar a construir usinas com reservatório não é uma panaceia. A gente sabe que, na região Norte, a topografia local não favorece muito a construção de reservatórios, mas mesmo lá existem ainda sítios onde reservatórios poderiam ser construídos – afirmou Bajay.

O professor disse desconhecer se existe uma decisão oficial de que o país não construa mais usinas hidrelétricas com reservatórios. Para ele, seriam decisões pessoais de alguns dirigentes do setor elétrico para facilitar o licenciamento ambiental diante da forte pressão dos movimentos ambientalistas. Para Bajay, os reservatórios poderiam ter uso múltiplo, diminuindo, dessa forma, seu impacto ambiental e social.

- Se no Brasil a gente tivesse priorizado ao longo do tempo que um determinado reservatório, além de servir para armazenar água e, indiretamente, energia elétrica, também fomentasse projetos de irrigação, navegação, controle de cheias e piscicultura, a oposição local a essas obras seria muito menor, pois os principais beneficiários seriam as populações ribeirinhas – afirmou.

Fontes Renováveis de Energia 

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) defendeu que o Brasil invista em tecnologia para a produção de fontes renováveis de energia, como a eólica, pelo vento, e a fotovoltaica, pelo sol. Para Arruda, os empresários brasileiros devem sentir segurança na capacidade de o país produzir energia boa e na existência de mercado para essa energia.

- Só na eólica, os senhores destacaram aqui o potencial igual ou até superior ao hidrelétrico – afirmou.

Flexa Ribeiro e Inácio Arruda também falaram sobre a microgeração de energia fotovoltaica. Ribeiro lembrou projetos que tramitam na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) para que cada cidadão seja um microgerador de energia em sua residência. Arruda falou sobre duas emendas que fez à MP 605/2013, que trata do setor elétrico e tramita atualmente no Congresso Nacional.

- Uma garantindo financiamento, porque o microgerador não pode ser apenas da classe média abastada. Você pode botar uma pessoa pobre, que tenha acesso ao crédito, e que pode comprar esse gerador. A outra garante que as empresas concessionárias estão obrigadas a comprar o excedente porque isso ajudaria a ele a pagar o equipamento que ele adquiriu para gerar – explicou Arruda.

O pesquisador da USP, Joaquim Francisco de Carvalho, disse que isso já é feito na Alemanha. Segundo ele, em 2010, os alemães instalaram painéis solares em cima de casas e que isso poderia ser feito também no Brasil.

- Quando a família está no trabalho e as crianças na escola, eles estão fornecendo energia para a rede e usam a energia de noite. Isso já é uma realidade. Eu estive lá no ano passado e fui a uma grande empresa de painéis fotovoltaicos, que tem muito interesse em investir no Brasil. São painéis flexíveis e translúcidos, você pode colocar na janela, eles geram energia e permitem a passagem da luz – explicou Carvalho.

Agência Senado

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