A tendência de se construírem usinas hidrelétricas a fio d’água ao
invés de usinas com reservatórios e o investimento em fontes renováveis
de energia foram os principais assuntos levantados pelos senadores no
debate desta quarta-feira (27) na Comissão de Serviços de Infraestrutura
(CI) do Senado. A discussão fez parte da audiência pública sobre
Energia e Desenvolvimento do Brasil que trouxe pesquisadores da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São
Paulo (USP).
Além dos senadores, os cidadãos também puderam participar por meio do
Alô Senado. Eles fizeram perguntas sobre vários temas que foram lidas
pelo presidente da CI, senador Fernando Collor (PTB-AL), e respondidas
pelos professores.
Hidrelétricas sem reservatório
O senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) questionou o motivo que levou à
decisão de parar de construir hidrelétricas com reservatórios no Brasil e
a substituição pelas usinas a fio d’água. As hidrelétricas a fio d’água
são aquelas que não dispõem de reservatório de água ou o têm em
dimensões menores. É o caso da decisão adotada para a construção da
Usina de Belo Monte, no Pará. Para Flexa Ribeiro, essa decisão é
incorreta e o Brasil estaria jogando energia fora.
- Foi mostrado aqui pelos professores que o grande problema da
energia é guardá-la. A única forma de gerar energia com reserva é por
meio de reservatórios, em que se pode equilibrar períodos de seca e
períodos de enchentes. Sem isso, vamos ter de compensar com energias que
não tem como reservar, que é o caso da eólica, você tem que gerar e
consumir, senão vai se perder – afirmou o senador.
De acordo com o professor da Unicamp Sérgio Bajay, a partir do
momento em que o Brasil deixa de construir reservatórios, o problema da
complementação técnica passa a ser uma necessidade. Para Bajay, ou o
país volta a construir usinas hidrelétricas com reservatório, ou deve
usar as termelétricas como backup. O professor defende que o governo
estabeleça uma política de priorização de locais onde a construção de
reservatórios tenha menor impacto ambiental e social.
- Voltar a construir usinas com reservatório não é uma panaceia. A
gente sabe que, na região Norte, a topografia local não favorece muito a
construção de reservatórios, mas mesmo lá existem ainda sítios onde
reservatórios poderiam ser construídos – afirmou Bajay.
O professor disse desconhecer se existe uma decisão oficial de que o
país não construa mais usinas hidrelétricas com reservatórios. Para ele,
seriam decisões pessoais de alguns dirigentes do setor elétrico para
facilitar o licenciamento ambiental diante da forte pressão dos
movimentos ambientalistas. Para Bajay, os reservatórios poderiam ter
uso múltiplo, diminuindo, dessa forma, seu impacto ambiental e social.
- Se no Brasil a gente tivesse priorizado ao longo do tempo que um
determinado reservatório, além de servir para armazenar água e,
indiretamente, energia elétrica, também fomentasse projetos de
irrigação, navegação, controle de cheias e piscicultura, a oposição
local a essas obras seria muito menor, pois os principais beneficiários
seriam as populações ribeirinhas – afirmou.
Fontes Renováveis de Energia
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) defendeu que o Brasil invista em
tecnologia para a produção de fontes renováveis de energia, como a
eólica, pelo vento, e a fotovoltaica, pelo sol. Para Arruda, os
empresários brasileiros devem sentir segurança na capacidade de o país
produzir energia boa e na existência de mercado para essa energia.
- Só na eólica, os senhores destacaram aqui o potencial igual ou até superior ao hidrelétrico – afirmou.
Flexa Ribeiro e Inácio Arruda também falaram sobre a microgeração de
energia fotovoltaica. Ribeiro lembrou projetos que tramitam na Comissão
de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA)
para que cada cidadão seja um microgerador de energia em sua residência.
Arruda falou sobre duas emendas que fez à MP 605/2013, que trata do setor elétrico e tramita atualmente no Congresso Nacional.
- Uma garantindo financiamento, porque o microgerador não pode ser
apenas da classe média abastada. Você pode botar uma pessoa pobre, que
tenha acesso ao crédito, e que pode comprar esse gerador. A outra
garante que as empresas concessionárias estão obrigadas a comprar o
excedente porque isso ajudaria a ele a pagar o equipamento que ele
adquiriu para gerar – explicou Arruda.
O pesquisador da USP, Joaquim Francisco de Carvalho, disse que isso
já é feito na Alemanha. Segundo ele, em 2010, os alemães instalaram
painéis solares em cima de casas e que isso poderia ser feito também no
Brasil.
- Quando a família está no trabalho e as crianças na escola, eles
estão fornecendo energia para a rede e usam a energia de noite. Isso já é
uma realidade. Eu estive lá no ano passado e fui a uma grande empresa
de painéis fotovoltaicos, que tem muito interesse em investir no Brasil.
São painéis flexíveis e translúcidos, você pode colocar na janela, eles
geram energia e permitem a passagem da luz – explicou Carvalho.
Agência Senado
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