Dos 1.300 militares brasileiros que estarão sob o comando do coronel paraense Ajax Porto Pinheiro no Haiti, a partir do próximo dia 28, 250 terão como missão específica ajudar na reconstrução do País. Eles integram o grupamento de engenheiros militares da Minustah, a missão da Organização das Nações Unidas para a estabilização do Haiti. O tremor da última terça-feira, 12, destruiu pontes e bloqueou estradas de acesso a Porto Príncipe, a capital. Também foram danificadas as estruturas de comunicações, abastecimento de água e transmissão de energia para vários pontos da cidade. Entre as tarefas dos brasileiros, está a perfuração de poços artesianos nos bairros pobres da capital.
O comandante das tropas brasileiras, que é natural de Bragança, no Pará, afirma que há mais de um ano o número de engenheiros militares que integram as tropas brasileiras no Haiti subiu de 100 para 250 homens. 'Estes soldados atuam na construção de pontes, abertura de estradas e ampliação da rede de energia. Agora o trabalho maior será de reconstrução da cidade, na desobstrução e reconstrução das estradas que foram destruídas pelo terremoto, e na perfuração de poços artesianos', afirmou o coronel Ajax, em entrevista por telefone concedida ontem ao jornal Amazônia. Os militares brasileiros também auxiliarão na construção de uma usina hidrelétrica.
Ajax está no Rio de Janeiro e se prepara para embarcar no próximo dia 18 para Porto Príncipe. O paraense assumirá o comando do Batalhão da Infantaria de Força de Paz na capital haitiana no dia 28 de janeiro e permanecerá no país até agosto.
O Haiti, o mais pobre entre os países da América, ainda carece de um sistema efetivo de distribuição de água. As duas grandes favelas da capital Porto Príncipe, Cité Soleil, à beira do mar, e Bellair, aos arredores do bairro central de Petion Vile, não têm rede de esgoto e saneamento e contam com parca distribuição de água. Os tremores registrados na última terça comprometeram mais ainda o abastecimento da cidade. Na última quarta-feira, um avião da Força Aérea Brasileira levou, junto a mantimentos e remédios, um carregamento de água potável.
Homens da Brigada de Infantaria Paraquedista e 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, ambas sediadas no Rio de Janeiro, e da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Juiz de Fora, Minas Gerais, estarão sob o comando do paraense. Também fazem parte do batalhão, um pelotão do Paraguai, um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e os 250 engenheiros militares encarregados de planejar e executar obras de infraestrutura. Os países que mais contribuem com a missão no Haiti, além do Brasil, são Argentina, Uruguai, Chile, Sry Lanka, Jordânia e Nepal. Ao todo são 7.200 militares da ONU, sendo que o Brasil é o que possui o maior efetivo.
O batalhão que segue para o Haiti nas próximas semanas passou por sete meses de treinamento no Rio e em Minas Gerais. A primeira missão a ser executada pelos brasileiros, após o apoio à população atingida pelo terremoto, será garantir a segurança das eleições parlamentares que estavam prevista para ocorrer entre o final de fevereiro e o início de março e agora não têm data para acontecer.
Familiares de médico tentaram contato
As mãos da dona de casa Itahyracema Couto Lima, 84 anos, ainda não pararam de tremer. Por dois dias ela esperou que o filho, o médico militar João da Silva Couto Lima, que integra a força de Paz da ONU em Porto Príncipe, capital do Haiti, desse sinal de vida. Só ontem, às 13 horas, o telefone da casa da família, no Coqueiro, trouxe a notícia de que o militar - um dos 1.266 brasileiros que permanecem em solo haitiano ajudando as vítimas do terremoto que devastou o país - está bem.
O major Couto Lima, 53, natural de Itaituba, participa pela segunda vez da Missão de Paz da ONU no Haiti. Ele viajou ao país em 2006 e lá permaneceu por seis meses. Em julho do ano passado, retornou a Porto Príncipe para mais uma jornada de seis meses. Em dezembro, prestes a retornar ao Brasil, pediu permissão ao Exército para permanecer na missão por mais um período. A previsão é que ele volte para casa em definitivo junto com os militares do 12º Contingente em julho deste ano.
O último contato com a família foi feito no domingo. O militar ligou para a esposa, que mora no Rio, e disse que estava bem.
'Passou tanta coisa pela minha cabeça, eu não queria pensar que o meu filho estava entre eles' diz a Itahyracema, a mãe do militar, ainda com voz trêmula. 'A gente passou a noite esperando que ele ligasse ou que alguém do Exército entrasse em contato pra dar qualquer notícia, e nada'.
Ontem de manhã as irmãs de João ainda tentavam contato com o Itamaraty para obter notícias sobre o pelotão do qual faz parte o major paraense. A esposa tentava falar com o militar por telefone ou internet, sem sucesso. Preocupados, Itahyracema e o marido, João Lima, 87, iniciaram uma corrente de oração pelo filho. Os parentes em Itaituba fizeram o mesmo.
Militar deverá festejar aniversário com a família, em abril
Em abril, mês em que completa 54 anos, João da Silva Couto Lima pretende voltar ao Brasil e reunir a família. 'Ele vai tirar uns dias de férias e vem comemorar o aniversário aqui, rever os parentes no interior, depois volta pro Haiti', diz a irmã Cleonice Maria Lima Pinheiro. Ela fala com orgulho do irmão que se acostumou a se aventurar em territórios destroçados pelo isolamento e pela guerra.
Além do Haiti, Couto Lima já serviu em Angola, na África, e em um hospital do exército em São Gabriel da Cachoeira, extremo oeste do Amazonas. Na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela, ele dirigiu por dois anos o hospital militar no meio da selva amazônica - onde só se chega nos aviões da Força Aérea Brasileira ou de barco, depois de duas semanas de viagem.
Há mais de cinco anos, ele faz parte das Missões de Paz da ONU. Com os pais, que ainda moram em Itaituba, sudoeste do estado do Pará, Couto Lima fala sempre aos domingos.
'Ele entrou em contato com Brasília hoje (ontem), mas não teve como ligar para casa', conta Cleonice. 'A notícia que veio é que ele está muito sobrecarregado de trabalho. Tardou em ligar por causa disso. A situação lá está muito difícil por lá e ele está socorrendo as pessoas. A gente, pelo menos, pode ficar mais sossegado, porque ele está bem', diz a irmã.
João da Silva Couto Lima é o penúltimo dos nove filhos que Itahyracema teve. O único que seguiu carreira militar. Nas Forças Armadas, segundo as contas da mãe, ele está prestes a completar 30 anos. Na medicina, ele escolheu se especializar em urologia. O paraense que permanece no Haiti tem quatro filhos. O mais novo, de 15 anos, mora com a mãe, no Rio de Janeiro.
Das histórias que ouviu o filho contar, Itahyracema só recorda de como ele sofria ao encontrar crianças pedindo esmola nas ruas. 'Ele me falava do sofrimento quando via as crianças mendigando um pedaço de pão. De como elas ficavam felizes com qualquer presentinho que dessem. De que tinha gente passando fome lá. Isso doía muito pra ele', diz a mãe.
O coronel Ajax Porto Pinheiro, o militar paraense que comandará a missão de Paz da Onu no Haiti a partir de fevereiro, confirmou ontem a tarde que major Couto Lima está bem. 'Nós temos essa certeza de que ele não corre perigo. São apenas quatro os militares que ainda não temos notícias, que estão desaparecidos, provavelmente sob os escombros', confirmou Ajax.
ORM
O comandante das tropas brasileiras, que é natural de Bragança, no Pará, afirma que há mais de um ano o número de engenheiros militares que integram as tropas brasileiras no Haiti subiu de 100 para 250 homens. 'Estes soldados atuam na construção de pontes, abertura de estradas e ampliação da rede de energia. Agora o trabalho maior será de reconstrução da cidade, na desobstrução e reconstrução das estradas que foram destruídas pelo terremoto, e na perfuração de poços artesianos', afirmou o coronel Ajax, em entrevista por telefone concedida ontem ao jornal Amazônia. Os militares brasileiros também auxiliarão na construção de uma usina hidrelétrica.
Ajax está no Rio de Janeiro e se prepara para embarcar no próximo dia 18 para Porto Príncipe. O paraense assumirá o comando do Batalhão da Infantaria de Força de Paz na capital haitiana no dia 28 de janeiro e permanecerá no país até agosto.
O Haiti, o mais pobre entre os países da América, ainda carece de um sistema efetivo de distribuição de água. As duas grandes favelas da capital Porto Príncipe, Cité Soleil, à beira do mar, e Bellair, aos arredores do bairro central de Petion Vile, não têm rede de esgoto e saneamento e contam com parca distribuição de água. Os tremores registrados na última terça comprometeram mais ainda o abastecimento da cidade. Na última quarta-feira, um avião da Força Aérea Brasileira levou, junto a mantimentos e remédios, um carregamento de água potável.
Homens da Brigada de Infantaria Paraquedista e 9ª Brigada de Infantaria Motorizada, ambas sediadas no Rio de Janeiro, e da 4ª Brigada de Infantaria Motorizada, de Juiz de Fora, Minas Gerais, estarão sob o comando do paraense. Também fazem parte do batalhão, um pelotão do Paraguai, um Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil e os 250 engenheiros militares encarregados de planejar e executar obras de infraestrutura. Os países que mais contribuem com a missão no Haiti, além do Brasil, são Argentina, Uruguai, Chile, Sry Lanka, Jordânia e Nepal. Ao todo são 7.200 militares da ONU, sendo que o Brasil é o que possui o maior efetivo.
O batalhão que segue para o Haiti nas próximas semanas passou por sete meses de treinamento no Rio e em Minas Gerais. A primeira missão a ser executada pelos brasileiros, após o apoio à população atingida pelo terremoto, será garantir a segurança das eleições parlamentares que estavam prevista para ocorrer entre o final de fevereiro e o início de março e agora não têm data para acontecer.
Familiares de médico tentaram contato
As mãos da dona de casa Itahyracema Couto Lima, 84 anos, ainda não pararam de tremer. Por dois dias ela esperou que o filho, o médico militar João da Silva Couto Lima, que integra a força de Paz da ONU em Porto Príncipe, capital do Haiti, desse sinal de vida. Só ontem, às 13 horas, o telefone da casa da família, no Coqueiro, trouxe a notícia de que o militar - um dos 1.266 brasileiros que permanecem em solo haitiano ajudando as vítimas do terremoto que devastou o país - está bem.
O major Couto Lima, 53, natural de Itaituba, participa pela segunda vez da Missão de Paz da ONU no Haiti. Ele viajou ao país em 2006 e lá permaneceu por seis meses. Em julho do ano passado, retornou a Porto Príncipe para mais uma jornada de seis meses. Em dezembro, prestes a retornar ao Brasil, pediu permissão ao Exército para permanecer na missão por mais um período. A previsão é que ele volte para casa em definitivo junto com os militares do 12º Contingente em julho deste ano.
O último contato com a família foi feito no domingo. O militar ligou para a esposa, que mora no Rio, e disse que estava bem.
'Passou tanta coisa pela minha cabeça, eu não queria pensar que o meu filho estava entre eles' diz a Itahyracema, a mãe do militar, ainda com voz trêmula. 'A gente passou a noite esperando que ele ligasse ou que alguém do Exército entrasse em contato pra dar qualquer notícia, e nada'.
Ontem de manhã as irmãs de João ainda tentavam contato com o Itamaraty para obter notícias sobre o pelotão do qual faz parte o major paraense. A esposa tentava falar com o militar por telefone ou internet, sem sucesso. Preocupados, Itahyracema e o marido, João Lima, 87, iniciaram uma corrente de oração pelo filho. Os parentes em Itaituba fizeram o mesmo.
Militar deverá festejar aniversário com a família, em abril
Em abril, mês em que completa 54 anos, João da Silva Couto Lima pretende voltar ao Brasil e reunir a família. 'Ele vai tirar uns dias de férias e vem comemorar o aniversário aqui, rever os parentes no interior, depois volta pro Haiti', diz a irmã Cleonice Maria Lima Pinheiro. Ela fala com orgulho do irmão que se acostumou a se aventurar em territórios destroçados pelo isolamento e pela guerra.
Além do Haiti, Couto Lima já serviu em Angola, na África, e em um hospital do exército em São Gabriel da Cachoeira, extremo oeste do Amazonas. Na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela, ele dirigiu por dois anos o hospital militar no meio da selva amazônica - onde só se chega nos aviões da Força Aérea Brasileira ou de barco, depois de duas semanas de viagem.
Há mais de cinco anos, ele faz parte das Missões de Paz da ONU. Com os pais, que ainda moram em Itaituba, sudoeste do estado do Pará, Couto Lima fala sempre aos domingos.
'Ele entrou em contato com Brasília hoje (ontem), mas não teve como ligar para casa', conta Cleonice. 'A notícia que veio é que ele está muito sobrecarregado de trabalho. Tardou em ligar por causa disso. A situação lá está muito difícil por lá e ele está socorrendo as pessoas. A gente, pelo menos, pode ficar mais sossegado, porque ele está bem', diz a irmã.
João da Silva Couto Lima é o penúltimo dos nove filhos que Itahyracema teve. O único que seguiu carreira militar. Nas Forças Armadas, segundo as contas da mãe, ele está prestes a completar 30 anos. Na medicina, ele escolheu se especializar em urologia. O paraense que permanece no Haiti tem quatro filhos. O mais novo, de 15 anos, mora com a mãe, no Rio de Janeiro.
Das histórias que ouviu o filho contar, Itahyracema só recorda de como ele sofria ao encontrar crianças pedindo esmola nas ruas. 'Ele me falava do sofrimento quando via as crianças mendigando um pedaço de pão. De como elas ficavam felizes com qualquer presentinho que dessem. De que tinha gente passando fome lá. Isso doía muito pra ele', diz a mãe.
O coronel Ajax Porto Pinheiro, o militar paraense que comandará a missão de Paz da Onu no Haiti a partir de fevereiro, confirmou ontem a tarde que major Couto Lima está bem. 'Nós temos essa certeza de que ele não corre perigo. São apenas quatro os militares que ainda não temos notícias, que estão desaparecidos, provavelmente sob os escombros', confirmou Ajax.
ORM
Nenhum comentário:
Postar um comentário