terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O que é Psicologia

O desenvolvimento da Psicologia aplicada e o desafio da Psicologia contemporânea.


A Psicologia aplicada surgiu nos EUA graças ao Zeitgeist americano que sofreu muito mais influência das teorias de Darwin e Galton do que da psicologia wundtiana. Outro fator que propiciou o desenvolvimento da Psicologia aplicada foi à pressão, cada vez maior, que sofriam os psicólogos para que sua ciência demonstrasse ser útil a sociedade, ao mesmo tempo em que um pesquisador que se dedicasse exclusivamente à carreira acadêmica não tinha ganhos suficientes para sobreviver e muitos, como Hollingworth, foram levados a aderir a esta prática psicológica.
Além disso, as mulheres contribuíram fortemente para o avanço da aplicabilidade da psicologia.

Em relação à influência de Darwin de Galton com a teoria evolucionista, ela é verificada na teoria da recapitulação de Graville Stanley Hall, que considera que as etapas do desenvolvimento humano equivalem ao processo evolutivo da raça humana, sendo a criança um ser primitivo em comparação ao homem adulto e civilizado. Vale lembrar ainda, que nesta mesma época estava sendo fundada a Psicologia funcionalista que sustentava que cada elemento mental tinha uma função que se destinava à adaptação do homem ao meio ambiente e ela influenciou a Psicologia aplicada, pois, se cada elemento possui uma função, basta observar essas funções para obter meios de intervenção social.

Além disso, o movimento funcionalista foi marcado por três mulheres: Mary Whiton Calkins, Helen Bradford Thompson Woolley e Leta Stetter Hollingworth. A primeira mulher presidente da APA, Calkins, teve a concessão de seu título de doutorado recusada, no entanto, com a ajuda de Willianm James ela venceu os preconceitos infligidos a ela e chegou a ocupar a décima segunda posição entre os psicólogos mais importantes dos EUA além de ter pesquisado sobre a memória tendo desenvolvido a técnica de associação de pares. Woolley realizou pesquisas sobre as habilidades mentais das crianças, a aprendizagem na primeira infância, orientação vocacional e sobre o trabalho infantil e até conseguiu mudar a legislação do estado das Filipinas. Já foi presidente da Associação de orientação vocacional e diretora do Instituto de pesquisas do bem estar infantil.


Letta Stertter Hollingworth, por conseguinte, refutou a hipótese de que a variabilidade genética na raça humana proporcionava mulheres medianas e conseqüentemente com capacidades intelectuais inferiores em relação aos homens. Ela conseguiu este feito, realizando uma vasta pesquisa, investigando o funcionamento físico, motor, sensorial e as habilidades intelectuais de homens e mulheres –inclusive no período menstrual__ de todas as idades e constatou que o ciclo menstrual não estava relacionado às habilidades testadas e que as mulheres não eram menos capazes que os homens. Ela ainda questionou o instinto de maternidade e a noção de que a mulher se sentia realizada somente depois de ser mãe e demonstrou que eram os valores sociais e culturais que impediam a mulher de ter uma ação mais efetiva na sociedade. A partir desse ponto, surgiram os testes mentais, obtendo grande sucesso entre a população americana.

O movimento dos testes psicológicos teve inicio com James Mckeen Cattell ao cunhar o termo ‘testes mentais’ que na verdade se referia a habilidade motora e sensorial dos indivíduos testados. Mais tarde, Binet e Théodore elaboraram um teste de inteligência que verificava a idade mental de crianças, através de um levantamento das atividades intelectuais que a maioria das crianças conseguiam executar em cada faixa etária, depois, Lewis M. Terman criou o teste que mede o coeficiente de inteligência, isto é, a idade mental multiplicada por cem e dividida pela idade cronológica resultando no valor que representa a inteligência de uma pessoa.

Outras contribuições importantes para o movimento dos testes psicológicos foram proporcionadas por quatro mulheres em especial: Florence L. Goodenougia, Maude A. Merrill James, Psyche Cattel e Anne Anastasi. A primeira delas desenvolveu o teste da figura humana utilizado ainda hoje, além de ter publicado uma análise deste movimento e vários trabalhos sobre a psicologia infantil. A segunda, Marreill James, contribuiu para o desenvolvimento dos testes das habilidades mentais primárias e criou o teste de inteligência em grupo. A terceira, Cattel, elaborou a escala de inteligência infantil que permite testar inclusive crianças de três meses em diante. A quarta mulher, Anne Anastasi, publicou mais de cento e cinqüenta livros e artigos e ainda um livro didático, tornando-se uma referencia em se tratando da Psicologia dos testes.

Outros movimentos importantes para o desenvolvimento da Psicologia aplicada foram, o movimento da Psicologia clínica, da Psicologia forense e da Psicologia industrial-organizacional. O movimento clínico se iniciou com a inauguração da primeira clínica psicológica por Witmer. Ele atendia crianças com problemas mentais, dificuldades de aprendizado, hiperatividade, entre outros. Mais tarde foram publicados dois livros muito importantes nesta área ‘A mind that found itself’ de Clifford Beers sobre o tratamento inadequado e desumano que recebiam os doentes mentais e ‘Psicotherapy’ de Hugo Münsterberg sobre técnicas para tratamento de distúrbios mentais. Várias das primeiras técnicas psicológicas da Psicologia clínica foram também uma contribuição importante de Sigmund Freud. Depois da primeira guerra mundial a necessidade de psicólogos clínicos cresceu consideravelmente proporcionando uma grande oferta de trabalho e incentivos para a formação profissional.

O movimento da Psicologia forense, por sua vês, foi impulsionado por Hugo Münsterberg que publicou artigos sobre a prevenção de crimes, sobre o uso da hipnose como técnica de interrogatório de suspeitos e testes mentais de culpabilidade e honestidade. Tendo contribuído também, para o movimento industrial-organizacional com o artigo ‘A psicologia e o mercado’, ele trabalhou e realizou pesquisas em diversas empresas. E publicou o resultado dessas pesquisas em um livro intitulado ‘Psicologia e eficiência industrial’ abordando temas como seleção de pessoal, orientação vocacional, publicidade em ambas as publicações.

Além disso, duas mulheres se destacaram neste último movimento mencionado acima, Lillian Moller Gilbreth, que escreveu um livro sobre a eficiência industrial, embora os editores não tenham permitido que seu nome aparecesse na capa, mais tarde publicou outro livro sobre a psicologia gerencial e depois de muitos empecilhos e preconceitos superados foi reconhecida e obteve grande sucesso. Anna Berliner, por conseguiste, escreveu sobre publicidade, trabalhou como psicóloga organizacional e pesquisou sobre a deficiência visual, a optometria e como estas afetam o aprendizado. Hoje, graças ao empenho de todos estes profissionais que fizeram a história da Psicologia ela não se restringe ao laboratório, mas, conquistou todas as esferas sociais ocupadas pelo ser humano como a educação, o esporte, o meio ambiente, a mídia, a indústria entre outras áreas de atuação.

Assim, a partir do que foi exposto acima, podemos afirmar que a busca constante por pragmatismo e objetividade consolidou a ciência da Psicologia e possibilitou o seu desenvolvimento como uma ciência aplicada e a ampliação dos espaços de atuação do profissional nesta área. No entanto, isto trouxe também algumas conseqüências como, por exemplo, se observarmos que temos uma visão analítica do ser humano em um momento em que percebemos cada vês mais a necessidade de enxergá-lo como um todo e não apenas como uma máquina que pode ser subdividida em várias partes subseqüentes, corpo, mente, átomos mentais. É necessário também entender o ser humano em suas múltiplas faces, pois somos indivíduos híbridos, isto é, somos compostos por todos os diversos valores culturais que recebemos desde cedo. O que não significa que somos um mero depósito de valores e informações associadas mecanicamente, porque na verdade, assimilamos tudo isso de forma muito pessoal e distinta justamente devido a nossa subjetividade que o psicólogo não pode relegar importância em prol da objetividade, sobretudo porque é este aspecto do ser humano que nos enriquece e que nos faz humanos por mais que precisemos nos adequar a normas sociais.
Contudo para escaparmos dessa visão estruturalista do homem não poderemos nos limitar e retroceder uma ciência restrita à academia e a pesquisas laboratoriais como pensava Wundt. Então como resolvermos este impasse? Primeiro devemos romper com o dualismo cartesiano, segundo temos que nos conscientizar da complexidade do nosso objeto de estudo e terceiro utilizarmos métodos qualitativos associados à metodologia quantitativa para que tenhamos a capacidade de entender a subjetividade humana e ao mesmo tempo sem perder de vista a objetividade e o rigor que a ciência exige mantendo a característica da psicologia de ser uma ciência transdisciplinar por excelência. Obviamente, é um grande desafio a ser enfrentado, mas, se miramos no exemplo das grandes mulheres que passaram pela história da psicologia, conseguiremos certamente vencer mais essa etapa do desenvolvimento desta fascinante área do conhecimento.




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