Com quatro anos seguidos de
prejuízo, os Correios estudam fechar agências próprias em grandes centros
urbanos de todos os Estados brasileiros. A fusão de agências faz parte de um
plano de economia que está sendo implementado pela direção para tentar reverter
a crise que a Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT) enfrenta, mais
de dez anos após ser o palco inaugural do escândalo do mensalão.
O número ainda não está
fechado, mas a estatal – que registrou em 2016 prejuízo em torno de 2 bilhões
de reais, patamar semelhante ao de 2015 – vai fundir agências consideradas
“superpostas”, ou seja, muito próximas. Um exemplo: na Esplanada dos
Ministérios, em Brasília, num raio de 10 quilômetros, existem 20 agências
próprias da empresa, uma a menos de um quilômetro da outra.
“O processo está sendo feito
em consonância com o Ministério das Comunicações, porque sabemos as
reverberações que a medida vai trazer”, disse o presidente dos Correios,
Guilherme Campos. Segundo ele, a estatal trabalha contra o tempo para colocar
em prática o processo de “otimização e racionalização” dos serviços.
Atualmente, os Correios contam
com 6.511 agências próprias. Responsável pela condução do estudo de fusão das
agências, o vice-presidente da rede de agência e varejo, Cristiano Morbach,
adianta que o “número vai cair bastante”.
A estratégia da empresa será
ampliar a rede de agências franqueadas, pouco mais de mil hoje. Campos ainda
planeja criar a figura de microempreendedor postal, uma pequena empresa que
assumiria os serviços postais em localidades menores.
Com o fechamento de agências
próprias, os Correios economizam nos custos de manutenção ou aluguel dos
imóveis e no enxugamento do quadro de funcionários. As agências franqueadas são
selecionadas por meio de uma oferta pública e remuneradas com um porcentual das
receitas dos serviços. Atualmente, oferecem quase todos os serviços postais das
agências próprias, mas não atuam como correspondentes bancários. Há negociações
para que os franqueados possam também oferecer serviços financeiros por meio do
Banco Postal.
Para o representante dos
trabalhadores no conselho de administração dos Correios, Marcos César Alves
Silva, a parceria da estatal com empresas privadas na rede franqueada, a
princípio, não é ruim, mas é preciso que o processo seja feito com cautela. “É
preciso cuidado, planejamento e responsabilidade nessa hora”, alerta.
“Alternativas de atendimento precisam ser bem testadas antes de serem
amplamente utilizadas, pois um modelo teórico pode não funcionar bem na
prática. A população não pode ficar mal atendida e menos ainda desassistida.”
Os outros dois pontos do plano
de economia tocado por Campos são o plano de demissão voluntária (PDV)
oferecido aos funcionários e a revisão da política de universalização dos
serviços postais, que obriga a estatal a estar presente em todos os municípios.
Segundo o presidente dos Correios, o PDV já tem adesão de 2 mil pessoas nesses
primeiros 15 dias – a estatal espera a adesão de 8,2 mil empregados e prevê
economia anual entre 700 milhões de reais e 1 bilhão de reais. O prazo termina
no dia 17. O fechamento das agências está em consonância, segundo Campos, com o
enxugamento do número de funcionários.
Para o representante dos
trabalhadores, em vez dessas medidas, os Correios deveriam investir em inovação
e novos negócios. Ele critica acabar com o princípio da universalização. “Em
muitos municípios, os Correios são a única representação do governo federal.
Manter esse ponto em funcionamento é importante para a comunidade”, afirmou.
De acordo com Campos, o
prejuízo de 2 bilhões de reais de 2016 foi impactado pelo rombo de 1,8 bilhão
de reais da Postal Saúde, plano de assistência médica dos funcionários. “Ou
reformulamos o plano ou ele acaba com a empresa”, disse. Hoje, os funcionários
não pagam mensalidade para ter direito ao Postal Saúde. Em média, são descontados
na folha 7% dos gastos individuais com assistência médica, hospitalar ou
odontológica.
(Com Estadão Conteúdo)
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