A partir do dia 30 deste mês, o Facebook, maior rede social do mundo,
vai passar a adotar novas regras relacionadas à privacidade dos
usuários e à oferta de anúncios publicitários. A empresa poderá obter
mais informações sobre quem a acessa, a partir de dados coletados por
produtos que também são do Facebook, como Instagram e WhatsApp. Até
mesmo o nível de bateria do celular e a força do sinal da operadora
utilizada serão conhecidos pelo Facebook.
Na página criada
para explicar as novas regras, o Facebook aponta que as mudanças
objetivam melhorar a experiência dos usuários com a rede e garantir
maior controle por parte deles. Assim, quem visualizar um anúncio poderá
saber os porquês da publicidade ter aparecido na sua página clicando na
lateral da própria imagem. O internauta também poderá se negar a
receber informações de determinados anunciantes, ação que valerá tanto
para o dispositivo que está usando naquele momento quando para os
demais, como celulares, tablets e computadores.
A
mudança tornará a oferta de produtos e serviços mais personalizada. A
principal ferramenta para isso está relacionada à geolocalização. Os check-ins feitos
pelos usuários quando estão em ruas, estabelecimentos comerciais e
outros locais poderão ser usados para o Facebook mostrar informações de
estabelecimentos e amigos próximos. Além disso, a empresa está testando a
opção “Comprar”, para que produtos sejam adquiridos na própria rede.
Se,
por um lado, as ferramentas podem dar mais comodidade e facilidades aos
usuários, por outro, os limites para o uso de dados pessoais e a
garantia de privacidade preocupam. “Você pensa que está usando um
serviço gratuito, mas você é o produto que eles estão vendendo, pois são
as suas informações que estão sendo comercializadas para outras
empresas”, diz o coordenador do Intervozes, Pedro Ekman.
O Facebook tem acesso a cerca de 70 informações sobre os usuários,
tais como cidade natal, páginas visitadas, visões religiosas e
políticas, atividades recentes, metadados de fotos (hora e local em que
foi feita, por exemplo), configurações faciais, número de telefone,
endereço de IP, número de cartão de crédito, idade, o que se olha na
linha do tempo de outras pessoas, as mensagens trocadas, páginas que
visita, etc.
A partir disso, a empresa elabora o perfil da pessoa
e pode oferecer a ela produtos, serviços e recursos que podem
interessá-la. Por outro lado, ela vende esse pacote de dados para
clientes e parceiros. Segundo o Facebook, a operação protege a
identidade pessoal, pois “somente fornecemos dados aos nossos
anunciantes parceiros e clientes depois de removermos seu nome ou outras
informações de identificação pessoal ou depois de combiná-las com dados
de outras pessoas de maneira que não mais identifiquem você
pessoalmente”.
Mesmo que as regras sejam desconhecidas por parte
das pessoas que usam a rede, basta utilizá-la para gerar informações. A
Declaração de Direitos e Privacidade do Facebook, disponível no site, diz
que “quando você publica conteúdos ou informações usando a opção
Público, você está permitindo que todos, incluindo pessoas fora do
Facebook, acessem e usem essas informações e as associem a você”. Se
desejar restringir o acesso aos dados, o usuário deve alterar quem pode
ver as suas ações na rede ou desativar todos os aplicativos da
plataforma em suas Configurações de Privacidade.
Com o Marco Civil da Internet,
contudo, o uso desses dados passou a ser regrado. O marco garante a
privacidade dos usuários da internet, ao estabelecer que informações
pessoais e registros de acesso só poderão ser vendidos se o usuário
autorizar expressamente a operação comercial.
“Em qualquer
operação de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de
dados pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de
aplicações de internet em que pelo menos um desses atos ocorra em
território nacional, deverão ser obrigatoriamente respeitados a
legislação brasileira e os direitos à privacidade, à proteção dos dados
pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros”, diz a
lei que ficou conhecida como a Constituição da Internet.
Segundo
Pedro Ekman, o Marco Civil tornou ilegal o acesso às informações
privadas, como as mensagens trocadas diretamente e privadamente entre
usuários. “A gente tem que cobrar que os novos termos do Marco Civil
sejam de fato executados, que as empresas tenham que informar o que
estão fazendo, que não leiam as nossas mensagens privadas e que, ao
encerrar a relação com eles, eles excluam todos os dados que foram
coletados na rede”. Hoje, mesmo que o usuário opte por sair do Facebook,
suas informações ficam armazenadas por tempo indeterminado.
Privacidade
total, contudo, não é mais viável, na opinião de Pedro Ekman. “No
limite, as pessoas têm que ir para outras redes sociais que não usam e
vendem seus dados”, opina Ekman, que cita como alternativa a rede social
Diáspora,
plataforma livre que não guarda dados dos usuários. Ele reconhece,
contudo, que poucas pessoas conhecem plataformas diferentes. “O problema
é esse. A economia de rede faz com que você esteja onde todo mundo
está. Eles buscam concentrar a ação das pessoas em uma rede e não em
várias”, alerta.
Para quem não imagina mais o cotidiano sem as
redes sociais, a dica é conhecer as regras, optar por alterar suas
configurações de privacidade e evitar se expor em excesso. É o que diz o
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que criou uma página
com dicas de segurança. Cuidados com as senhas, uso de criptografia,
limpeza do histórico do navegador e atenção na hora de liberar acesso
aos dados por aplicativos são algumas das ações que podem ser feitas por
um usuário qualquer, mesmo sem conhecimentos aprofundados sobre a rede
mundial de computadores.
Fonte: Agência Brasil
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