Do iG
Nos EUA, Telexfree contrata advogado com experiência em casos de pirâmide
Gerald Nehra é especialista em marketing multinível; no Brasil, negócios estão sob suspeita
Investigado no Brasil por suspeita de ser uma pirâmide financeira, o
Telexfree contratou um advogado com experiência em casos desse tipo,
Gerald P. Nehra, para revisar o modelo de negócios da empresa nos
Estados Unidos.
A Telexfree é apresentada como um sistema de venda de pacotes VoIP
(voz sobre IP) por meio de distribuidores independentes, que são
remunerados por divulgar e vender o produto, e também por atrair mais
gente para a rede. Para o Ministério da Fazenda brasileiro, há indícios
de que se trate de um esquema de pirâmide em que os ganhos vêm do
ingresso de mais divulgadores no sistema.
No Brasil, o negócio é operado pela Ympactus Comercial LTDA, do
Espírito Santo. Nos EUA, a operação está nas mãos da Telexfree Inc,
fundada em 2002 por Carlos Wanzeler e James Merril, que são apontados,
pelo diretor de marketing da empresa, Carlos Costa, como os
proprietários da Ympactus. Ele nega irregularidades.
Divulgação
Gerald P. Nehra, contratado pela Telexfree nos EUA
|
Nehra atuou em pelo menos dois casos de pirâmide nos EUA. No mais
recente, do Ad Surf Daily, ele prestou um testemunho juramentado
afirmando que o modelo de negócios "não é esquema Ponzi [um tipo de
pirâmide]". Em 2010, o criador do Ad Surf Daily, Andy Bowdoin, foi
condenado à prisão acusado pelo governo local de ter levantado US$ 110
milhões por meio do esquema.
Nos anos 1990, Nehra representou, junto à Comissão de Valores
Mobiliários dos EUA (a SEC, na sigla em inglês), o pastor Charels R.
Groeschel, acusado pela agência reguladora de liderar um esquema de
pirâmide religiosa.
Especialista em marketing multinível
Ex-diretor legal da Amway, Nehra é um dos sócios do escritório
americano MLM, especializado em marketing multinível – um sistema de
venda direta em que o representante cria redes de contatos para
comercializar um determinado tipo de produto. Esse é o modelo que a
Telexfree alega utilizar para vender os pacotes VoIP.
Ao iG , Nehra diz que seu escritório foi contratado
pela Telexfree há cerca de três meses para “revisar o modelo de
negócios” da empresa nos EUA que, segundo ele, não é uma pirâmide. O
advogado ressalva, porém, desconhecer a atuação no Brasil.
“Eu não sei nada sobre do modelo de negócios da Telexfree no Brasil.
Eu não falo português, eu não leio português e não dei nenhuma opinião
para eles sobre o modelo de negócios no Brasil”, diz Nehra. “O modelo
nos Estados unidos não é um modelo Ponzi”
Sobre o caso Ad Surf Daily, Nehra afirma ter sido contratado 48 horas
antes de a empresa ter problemas, e coloca a culpa nos representantes.
“É preciso ter na cabeça que o que uma companhia diz e o que é
revisado por um advogado não é sempre a mesma coisa que os
distribuidores fazem. No Ad Surf Daily, [os distribuidores] não estavam
implementando o programa como foi desenhado, e sim de uma maneira que
infringia as leis.”, diz.
Adequação
Carlos Costa, diretor de marketing da Ympactus, diz que a contratação
de Nehra não tem relação com o fato de ele já ter atuado em casos de
pirâmide.
“De forma alguma. O pouco que sei [sobre o caso Ad Surf Daily] é que o
pessoal não seguiu as determinações dele”. diz. “Ele é um advogado de
renome do marketing multinível. Como qualquer negócio, buscamos estar
sempre com os melhores.”
De acordo com Costa, o objetivo é adequar os negócios da empresa à legislação americana.
A Telexfree foi fundada nos EUA em 2002 com o nome de Common Cents
Inc., e tinha como presidente o brasileiro Carlos Wanzeler. A alteração
do nome da empresa foi feita em fevereiro de 2012, sob a presidência do
americano James Merril, que no ano da fundação era o tesoureiro. Costa
diz ter sido o responsável por trazer o negócio para o Brasil e ser o
terceiro sócio.
Em 14 de março, a Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae), do
Ministério da Fazenda, divulgou uma análise em que descreve o modelo de
negócio da empresa como não-sustentável e sugere que se trate de uma
pirâmide financeira. As conclusões devem ser encaminhadas para a Polícia
Federal ou para o Ministério Público Federal.
Para a Seae, há indícios de estímulo à economia informal, porque “os
ganhos financeiros mais substantivos não advêm dos anúncios, mas sim do
ingresso de novos divulgadores na rede do divulgador inicial (...) Se
não houver o ingresso de novos interessados, é impossível obter os
ganhos anunciados, indicando, salvo interpretação contrária, a falta de
sustentabilidade do negócio.”
O Ministério da Justiça ainda não divulgou os resultados da análise que faz sobre o caso.
Na Bahia, o Ministério Público investiga o Telexfree sob suspeita de
lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e crime contra a economia
popular. A Ympactus também está sob investigação dos MPs de Minas Gerais
e Mato Grosso.
A reportagem solicitou a Costa uma entrevista com Wanzeler, mas o
pedido ainda não foi atendido. Wanzeler também não respondeu ao e-mail
enviado em 8 de março.
* Colaborou Vinícius Oliveira
Fonte: Advivo
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