terça-feira, 10 de maio de 2011

Criação do Estado do Tapajós causa debate no site da 'Veja

Criação do Estado do Tapajós causa debate no site da 'Veja'Ricardo Setti vociferou contra a divisão Brasil - Ricardo Setti, colunista da Revista ‘Veja’, escreveu em sua página um post intitulado “Farra com nosso dinheiro: Congresso abre caminho para criar dois Estados novos, desmembrados do Pará”.

Demonstrando falta de baseamento teórico sobre a luta das regiões oeste e sul do estado do Pará em busca de sua emancipação, o colunista afirma que os estados não passariam de farras com dinheiro público, pois os mesmos viveriam ‘pendurados’ no governo federal e que “não vão melhorar em nada a população das respectivas regiões”.

Para quem acompanha a luta pela emancipação ficou visivelmente irritado com o pronunciamento de Setti, que reafirma em outro trecho que os “dois novos Estados não vão significar progresso, nem desenvolvimento, nem melhorias”.

Em justificativa, ele comenta que a criação dos estados não passam de uma ‘farra’ política: “irão, sim, implicar em dois novos governadores, dois novos vices, dezenas de secretários de Estado, seis senadores, 16 deputados federais (8 por Estado é o número mínimo), duas Assembleias Legislativas com uma boa centena de deputados estaduais, dois Tribunais de Justiça com seus desembargadores, dois Tribunais Regionais Eleitorais mais seus juízes, e dois Tribunais de Contas e respectivos conselheiros – e, claro, uma multidão ainda impossível de calcular de funcionários públicos.”

A falta de conhecimento sobre a realidade que vive a população dessa região não se limita apenas ao colunista, nos comentários é possível ver que muitas pessoas ridicularizam a batalha. “Meu Deus ! O pior é que uma barbaridade dessas rapidamente é aprovada”. “Nada lógico fundamenta esse desejo de ter mais dois estados no Brasil. Serão só gastos a mais. Todo o resto continuará na mesma. Serão só mais duas burocracias modorrentas a demandar recursos públicos do País todo.”

Mesmo com a política adversa da capital do estado, há quem defenda a divisão. “Prezado Ricardo Setti, é incrível como lhe faltam os fundamentos mais elementares para avaliar uma decisão como essa, da divisão do Pará. (...) Eu sou belemense, sou nascido e criado aqui e moro na cidade, então teria todos os motivos para ser contra a divisão do estado, já que ela significa uma perda de poder relativa para o meu estado, mas eu entendo perfeitamente o anseio das populações do sul e do oeste do Pará pela emancipação. É verdade que o Estado em Belém funciona mal, mas aqui ao menos ele existe, situação oposta à das grandes cidades do sul e do oeste do Pará, onde ele é praticamente inexistente. Todos os governadores do Pará, todos, sem exceção, foram nascidos em Belém, e nunca deram a mínima para as outras regiões do estado. (...) É verdade que um tamanho menor não garante uma administração melhor, senão Alagoas não seria o descalabro que é, mas é verdade também que as distâncias continentais do Estado atrapalham sim a administração pública. (...) As suas afirmações de que a divisão não irá melhorar em nada a vida dessas populações, nem trará desenvolvimento ou progresso, são simples BAZÓFIA. A experiência do Mato Grosso do Sul e de Tocantins mostra exatamente o contrário. Por favor, consulte os alfarrábios do IBGE e comprove: veja quanto cresceu o PIB de cada um desses estados em comparação com os dos quais foram desmembrados, veja por exemplo os números da previdência no Tocantins (...)”.

Provando com fatos e dados, muitos paraenses que lutam pela emancipação, tentam o fazer entender a dificuldade como a falta de condições das estradas, o descaso com a saúde e com a educação, além da monopolização dos investimentos na região metropolitana são fatores que elevam a anseio à emancipação. “É um absurdo você escrever esse tipo de coisa, argumentos dessa forma, sem conhecer a realidade! Você com certeza, nunca andou por aqui. Nunca viajou de Marabá para Redenção ou Parauapebas, três cidades importantíssimas dessa região, nunca viu como são as estradas dessa região. (...) A educação é péssima, a saúde precária, violência, estradas em péssima situação. (...) Se eu não me engano, cerca de 70% dos investimentos do governo estadual se concentram na região metropolitana, enquanto todo o interior do estado fica com o restante. (...) Só peço que o senhor procure saber mais sobre essa luta que vem a mais de 20 anos, uma luta de um povo que sofre”.

O argumento de um leitor derruba a afirmação do colunista quanto à incapacidade dos estados se acenderem sozinho. “Caríssimo Ricardo Setti, entendo perfeitamente seus argumentos e o pensamento de quem concorda com você. É importante deixar claro que eu, se conhecesse apenas a parcialidade que você conhece, concordaria e defenderia cada vírgula escrita no artigo. O outro lado da moeda é que as regiões do Tapajos e de Carajás podem perfeitamente se desenvolver com recursos próprios. Carajás é exportador de carne, detendo 60% de todo o gado de corte do Pará, abriga o municípios mineradores onde atua a Vale e outras grandes mineradoras, inclusive Parauapebas, cuja balança comercial alterna a liderança NACIONAL com Angra dos Reis, estando atualmente em segundo lugar, após a referida cidade carioca. Tapajos, que é a região que eu menos conheço, tem turismo e agricultura desenvolvida, além de regiões com elevado potencial de mineração. Diante da riqueza das referidas regiões, persiste o problema que motiva o sentimento separatista: Carajás e Tapajós pagam vultuosas somas em impostos que vão para o Governo do Estado em Belém e por lá ficam, sendo aplicadas na capital e municípios circunvizinhos.”

Um dos grandes debatedores do assunto no site foi o economista santareno Aldrwin, que ressalta a importância da melhoria da qualidade de vida das pessoas dessas regiões com a emancipação, acima de qualquer possível ‘farra’ política. “(...) Recomendo que o sr. leia mais sobre o quanto essas regiões (Tapajós e Carajás) pagam de tributos à união e quanto dela recebem. Veja quanto de nossas riquezas já foram usadas para financiar sua infra estrutura, educação, saúde e financiamentos que o governo federal proporcionou a São Paulo, Rio e demais “centros” nacionais. (...) Não vemos Paulistas lutando pra ter menos deputados, menos senadores, menos secretarias estaduais, menos obras do estado no município de São Paulo, Campinas ou Ribeirão Preto. Nem vou entrar no mérito de discutir os impactos positivos sobre o principal que foi esquecido pelo sr. As pessoas. Quando se tem estado presente tudo o que se quer é ter menos estado. Quando não se tem, tudo o que queremos é ter estado (...)”.
Em outro ponto o economista discute a coerência de Setti, quando o mesmo fala “Farra, e farra da grossa, com governadores, vices, secretários, deputados, desembargadores, conselheiros e milhares de novos funcionários – tudo pago pelo seu, pelo meu, pelo nosso dinheiro”, em contra partida aos gastos públicos do sudeste. “O Sr. Ricardo Setti que reclama dos custos da democracia e do modelo republicano (tribunais, polícia, institutos, autarquias, câmaras, assembléias, deputados, senadores, governadores, etc) inicie uma mobilização contra essas enormes “despesas” aí em São Paulo. Comece já a exigir o fim de sub-prefeituras, diminuir o número de vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, juízes (...), menos fóruns, menos tribunais, menos tudo isso que o estado lhe proporciona e que “custa muito” e não traz retorno. (...) Não quis ofende-lo e lamento se o insultei, mas gostaria de convida-lo a rever seu posicionamento ouvindo outros pontos de vista.”

O jornalista Jota Ninos também deixa sua contribuição ao debate. “Fico triste em ver que meus colegas jornalistas do sul, como você, se deixem envolver pelo velho discurso de que a criação de novas unidades da federação criam apenas despesas para a União. (...) Acredito que você, diligente como é, deverá se aprofundar no estudo do tema e, quem sabe, possa rever seus conceitos, antes de pensar no Pará apenas como um estado de políticos oportunistas querendo se aproveitar do dinheiro da união. Não que eles não existam, afinal estão presentes na nossa sociedade mesmo nos grandes centros.”

Leia a post de Ricardo Setti na íntegra: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/farra-com-nosso-dinheiro-congresso-abre-caminho-para-criar-dois-estados-novos-desmembrados-do-para

Nenhum comentário:

Postar um comentário