segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Ciúme descontrolado é a causa de agressão e morte

Patologia

Doente pode se transformar num criminoso que ataca o alvo da paixão

Qualquer ato ou conduta que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico a mulher, tanto na esfera pública quanto na privada, é considerado crime. Na prática, nem sempre autores de assassinatos ou lesões corporais são punidos. A violência pela qual passaram as jovens paulistas Eloá e Nayara num dos crimes passionais mais violentos do país, também é vivida em Belém, onde o histórico é dos mais extensos.
Casos como os das adolescentes de Santo André (SP) são iguais aos de Nirvana Evangelista da Cruz, morta em julho de 2007 pelo ex-namorado Mário Tasso Serra Júnior; e de Lilian Obalski, assassinada em janeiro deste ano por Fábio Silva da Silva, que não aceitava o fim do relacionamento.
Segundo a psicóloga paraense Niamey Ghanhen, especialista em psicologia familiar, os crimes passionais originados pelo ciúme são cada vez mais freqüentes. Niamey explica que esse tipo de crime está cada vez mais evidente devido a uma série de fatores. Um deles, diz, são as relações afetivas. 'Primeiro precisa-se definir o que é o amor. Será que o Lindemberg amava mesmo Eloá ou será que não a baixa valorização dele próprio e o sentimento de estar por baixo com o fim do relacionamento foram os responsáveis pelo covarde assassinato da garota?', questiona a psicóloga.

CAUSAS

Niamey observa que a dor da frustração e a dependência exagerada pela pessoa amada podem ser as principais causas que levam um homem - ou até mesmo uma mulher - a cometer um ato violento contra o parceiro. 'Todos esses fatores são indicativos de que um crime pode acontecer', garante a especialista, que acredita que Eloá não teve maturidade suficiente para contornar a situação com o ex-namorado. 'Ela só tinha 15 anos. Se tivesse maturidade suficiente, teria entrado no jogo dele. Pelo que se viu pela televisão, ela gritava e insistiu que não queria mais o namoro, o que só serviu para contrariar ainda mais o sequestrador', diz.
A psicóloga lamenta que a polícia não tenha profissionais especializados nesse tipo de problema, que ela considera uma patologia. 'Em tantos casos que se vê, observamos que pessoas que sentem ciúme excessivo agem quando a barreira da dependência afetiva é quebrada', afirma Niamey, que participou na noite da última sexta-feira, de um colóquio sobre o assunto.

DEBATE

Com o tema 'Amor e ciúme nas relações afetivas: no limite da fronteira do saudável e do patológico', os psicólogos Niamey Costa e Manoel de Christo Alves participaram na noite da última sexta-feira de um colóquio realizado pela Universidade da Amazônia (Unama). O evento contou com a participação de cerca de 200 pessoas, entre alunos, professores e convidados, e aconteceu no auditório D-200 do campus Alcindo Cacela.
Os especialistas fizeram uma análise do tema e falaram sobre o que é o amor e quando ele passa a ser doença. O tema ganhou relevância na instituição por causa do trágico fim do caso Elóa, que teve grande repercussão na imprensa nacional.

Veja como evitar que um crime por ciúme aconteça

Familiares devem observar o comportamento de adolescentes e não permitir que se relacionem afetivamente com pessoas mais velhas.

Casos de relacionamentos com o efeito chiclete (vai e volta) devem ser evitados, pois quando a relação chega ao fim, uma das partes pode não aceitar.
Respeitar a individualidade do parceiro, permitindo que ele participe de encontros com amigos e tenha uma vida individual.
Situações de brigas e cenas de violência, como um simples puxão do braço, devem ser compartilhado com a família ou com pessoas de confiança.

Denunciar à polícia qualquer atitude violenta do parceiro.
O diálogo é sempre a melhor solução quando não existe a possibilidade de terminar um relacionamento.

Ciumentos e assassinos

Fábio Silva da Silva matou a ex-namorada Lílian Obalski Sampaio, de 23 anos, no dia 9 de janeiro deste ano, no conjunto Aldeia do Rádio, no bairro do Jurunas, em Belém. Fábio foi denunciado pelo crime de homicídio doloso, tipificado no artigo 121, § 2º, inciso IV, combinado com o artigo 61, inciso II, alínea 'f', do Código Penal. A denúncia foi recebida na 2ª Vara de Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher, presidida pelo juiz Ricardo Salame Guimarães.

Mário Tasso Serra Júnior, réu confesso do assassinato da ex-namorada, Nirvana Evangelista da Cruz, no dia 5 de julho de 2007. Mário Júnior está preso na penitenciária Anastácio da Neves, em Americano, exclusiva para funcionários públicos. Ele foi indiciado por homicídio qualificado pela impossibilidade de defesa da vítima e motivo torpe, e cumpre a pena até 2020.

Jailson Evaristo de Vasconcelos é acusado de matar a família inteira por ciúme. Silvana da Silva e Silva, de 31 anos; o filho,
Tiago Ian da Silva e Silva, 6 anos, e o cunhado dela, Lael de Souza Lopes, conhecido como Michel, de 24 anos, foram assassinados com um tiro na cabeça, à queima-roupa, cada um. Segundo testemunhas, Jailson teria cometido o crime porque Silvana estaria tendo um caso amoroso com o cunhado, Michel, que era marido da irmã de Silvana, que morava no sítio da família.
Ismael Macambira Haick foi acusado de um dos crimes mais macabros do Estado. Ele foi acusado de matar a ex-mulher, a professora Núbia Carmen Conte Haick, de 43 anos, em meio a um ritual satânico, na estrada que dá acesso à Ceasa, no dia 6 de dezembro.
O Liberal

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