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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Infarto mata o líder do PC do B do Pará, Neuton Miranda

Vítima de infarto, o superintendente regional de Patrimônio da União no Pará (SPU-PA), Neuton Miranda Sobrinho, 61 anos, morreu na noite de sábado, em Belterra, oeste paraense, após sentir-se mal no quarto do hotel onde estava hospedado. Ele ainda chegou a ser levado de ambulância a um hospital daquela cidade, mas morreu no caminho.

Ex-vereador e deputado estadual pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), partido que ajudou a fundar no Pará, Miranda estava em Belterra para entregar a légua patrimonial, antes administrada pela União, e títulos de terra para famílias ribeirinhas da região. O corpo está sendo velado na Assembleia Legislativa (AL). O enterro deve ocorrer na terça-feira, após a chegada da filha Janaína Miranda, residente em Londres.

Amigos e militantes partidários estiveram no aeroporto de Belém e depois na AL para homenagear Miranda e levar conforto aos familiares. De acordo com o secretário estadual de Esporte e Lazer, Jorge Panzera, também dirigente estadual do PC do B, a política regional sentirá muita falta do ex-deputado. “Ele lutou pela conquista de um mundo melhor, um país mais democrático e a favor da igualdade social”, disse o secretário, para quem Miranda deixa uma missão que deverá ser seguida pela militância do PC do B.

“Estamos de luto. Perdemos o amigo, o mestre, o companheiro, o revolucionário do nosso projeto de titulação da população ribeirinha. Sei que, nesse momento, nós, superintendentes do patrimônio da União em todo o Brasil, estamos no Pará, de coração, chorando a perda do nosso querido Neuton Miranda”, declarou a superintendente do Patrimônio da União em São Paulo, Evangelina de Almeida Pinho.

O vice-presidente regional do partido, Érico Albuquerque, definiu o líder falecido como um daqueles “militantes imprescindíveis”. Ao lembrar que Miranda enfrentou a ditadura militar, lutando pela anistia aos presos políticos e pelas eleições diretas, Albuquerque acrescentou que a visão política e social de Miranda ajudou a construir um PC do B que a cada dia cresce de conceito junto ao povo.

Nos últimos meses, Albuquerque e outros amigos pediram ao superintendente da GRPU para reduzir a carga de trabalho em razão de estar fazendo tratamento contra um câncer de próstata. Miranda prometia evitar excessos, mas seu apego ao trabalho, em regularizar a situação de ribeirinhos sem títulos de terra, o fazia relaxar com a saúde.

DEDICAÇÃO

Segundo nota da direção estadual do PC do B, Miranda encerrou uma vida marcada pela dedicação integral à luta por uma sociedade socialista. Isso desde a década de 60, quando militava no movimento estudantil e participava da Ação Popular. Marabaense, era estudante de Matemática em Belo Horizonte quando iniciou a militância. Vice-presidente da UNE na gestão de Honestino Guimarães, foi perseguido pela ditadura militar, sendo obrigado a viver clandestinamente. “No mais duro período repressivo, no ano de 1972, decidiu somar fileiras ao Partido Comunista do Brasil. Decretada a Anistia, foi destacado pelo seu partido para reorganizar o PCdoB no Pará, ao lado de Paulo Fonteles e Neco Panzera”. Em 1984, em um último espasmo da ditadura, Neuton chegou a ser preso em Belém, acusado de reorganizar o PCdoB.

Foi deputado estadual da legenda comunista entre 1992 e 1994, com atuação destacada em defesa dos trabalhadores e na luta pelo direito de morar. Chegou a ser presidente da COHAB, na gestão de Almir Gabriel, rompendo publicamente com este após o Massacre de Eldorado dos Carajás. Neuton também foi secretário municipal de Habitação no governo de Edmilson Rodrigues e, há cinco anos, era superintendente do Patrimônio da União.

Na SPU, liderava um trabalho pioneiro de concessão de uso do solo que beneficia cerca de 60 mil famílias paraenses, no que se tornou o maior programa de regularização fundiária em área metropolitana do país. “Deixa esposa, filha, mãe, irmãos. E uma história honrada, de coerência, combatividade, trabalho e luta. Não acumulou riquezas, mas era um colecionador de amigos e admiradores, além de contar com gratidão de milhares de pessoas a quem ajudou com o seu trabalho”.

A governadora Ana Júlia Carepa divulgou uma nota de pêsames. “Neuton Miranda fará falta nas fileiras dos lutadores do povo. Mas, seu exemplo seguirá estimulando a muitos outros lutadores”, diz um trecho da nota.

Militantes fazem homenagens

O corpo de Neuton Miranda chegou a Belém às 14h de ontem, em um avião fretado, que pousou no Aeroclube do Pará. Segundo sua assessoria, às 20 horas do sábado, em Belterra, Neuton jantou e foi para o quarto do hotel descansar. Eram quase 21 horas quando ele começou a passar mal e chegou a ir andando para a ambulância, mas morreu antes de chegar ao hospital.

Tomado por bandeiras vermelhas, o salão de desembarque ficou pequeno diante da multidão de pessoas, entre familiares, amigos, políticos e simpatizantes partidários, que foram prestar as últimas homenagens. Na retirada do caixão da aeronave, verdadeiros gritos de guerra foram ensaiados lembrando a liderança militante de Miranda.

Para o vice-presidente da União da Juventude Socialista (UJS), Henos Silva, Neuton é um exemplo de militância a ser seguido. “Ele nos ensinou a nunca desistir e enfrentar todas e quaisquer dificuldades. A morte dele representa uma perda inestimável.”

Eneida Guimarães, secretária estadual de formação e propaganda do Partido Comunista do Brasil (PC do B), emocionou-se ao falar do amigo de longa data. “Ele era um líder nato e tinha uma capacidade incrível de aglutinar e discernir o que era bom para povo”.

Segundo Eneida, a saúde de Neuton Miranda já apresentava sinais de fragilidade, mas ele se recusava a parar de trabalhar. “Ele sabia que estava doente, mas sua luta e a necessidade das pessoas eram maiores que tudo para ele”.

Depois de ser recebido no aeroclube, o corpo foi acompanhado por um cortejo até a Assembleia Legislativa, onde chegou por volta das 15 horas.

“Neuton não morreu!”, gritava em coro um pequeno grupo enquanto escoltava o caixão que levava o corpo do presidente regional do PC do B pelas escadarias da AL. A cerimônia foi acompanhada por cerca de 50 pessoas.

A mulher dele, a professora Leila Miranda, estava no local acompanhada de parentes, amigos e políticos. Uma bandeira do PC do B foi colocada sobre o caixão.

O PC do B lamentou a morte do correligionário, que seria o candidato do partido a uma vaga de deputado federal nas eleições deste ano.


Diário do Pará

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